quinta-feira, 15 de setembro de 2011

FOLCLORE SERGIPANO É TEMA DE ESTUDO PARA O 6º ANO

O texto abaixo está disponível na sinopse da Exposição Nosso Folclore (não indicativo de data, nem local em que a mesma foi realizada), com algumas alterações, adaptações e inclusão de pequenos parágrafos, com o objetivo de ampliar a compreensão de alunos e alunas do 6º ano.
FOLCLORE SERGIPANO - DANÇAS E FOLGUEDOS
O folclore sergipano, com sua diversidade de sons, cores, ritmos, expressões e rituais. tem sua ocorrência em todos os períodos do ano e abrange vários municípios do Estado.É nas manifestações populares, como o folclore, com seus valores e sentidos, que se fundamentam as bases da nossa cultura.
Um elemento importante nas manifestações folclóricas sergipanas é a sua ligação com as crenças religiosas dos diferentes grupos culturais que as criaram. Se dança para agradecer uma graça a Santos, para pedir bênção, para louvar... Apesar dessa expressão religiosa, muitas danças também foram associadas a manifestações pagãs e foram proibidas de serem realizadas nas igrejas católicas, onde costumavam acontecer no passado. Atualmente, é possível assistirmos a esses rituais em cortejos realizados nas ruas dos municípios em que se manifestam, durante as festas religiosas ou encontros culturais. Também são comuns as apresentações dos diferentes grupos em “feiras de municípios” realizadas na capital Aracaju, ou em outros municípios do Estado.  Além disso, os componentes (também conhecidos como “brincantes”) costumam se encontrar com seu grupo regularmente para a “brincadeira” (vivência da manifestação). Geralmente esses encontros regulares acontecem na casa do mestre, associação de moradores ou espaços públicos da comunidade, e envolvem pessoas de diferentes idades, que muitas vezes pertencem à mesma família, o que contribui para manter vivas as tradições e favorece o processo de transmissão cultural de geração a geração.
Outro elemento importante no contexto dessas manifestações é a indumentária (vestimenta), que é o fator de identificação das nossas danças, folguedos e cortejos. Entretanto, percebemos algumas modificações nas suas características originais, motivadas não só pela compreensão cultural de alguns mestres, mas principalmente por questões econômicas que determinam a permanência ou não dos elementos que compõem o traje de cada grupo. Em alguns, já podemos observar a substituição das fitas de seda por tiras de plástico, o cetim ou mesmo o douchese por algodão, os modelos tradicionais cada vez mais sendo simplificado e os chapéus perdendo alguns acessórios.
                Contudo, o elemento de fundamental importância para a preservação do fato folclórico, que é a intencionalidade da continuidade do grupo, como elemento vivo e atraente da nossa cultura, continua graças à capacidade de luta e perseverança dos mestres, que muitas vezes deixam de atender uma necessidade pessoal ou familiar, para disponibilizar o pouco recurso financeiro que possuem em favor da sobrevivência do grupo.
                O contato, vivência e estudo das manifestações folclóricas do nosso Estado possibilitam a valorização e a preservação das nossas raízes culturais, fortalecendo a nossa “sergipanidade”. Isso pode e deve levar a sociedade a refletir e descobrir o caminho que promova a revitalização de algumas manifestações que estão se perdendo com o tempo por falta de apoio, inclusive financeiro, e contribui para a preservação dos grupos que ainda estão em atividade, mesmo com todas as dificuldades.  
Algumas das nossas danças e folguedos
CACUMBI

                Dança do ciclo natalino, realizada com maior frequência por ocasião do dia de Reis e da Procissão de Bom Jesus dos Navegantes. Na manhã do dia 06 de Janeiro assistem a missa, como todo grupo folclórico da cidade de Laranjeiras, depois da missa fazem a louvação a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, à tarde participam da procissão pelas ruas da cidade. A presença masculina é uma das características grupo e a indumentária é composta por calças brancas, camisa amarela cobertas com fitas em diversas cores, tênis azul e chapéu forrado com o tecido da camisa com acabamento em fitas e espelhos. Os destaques do grupo são o mestre e o contra mestre. O repertório é formado por músicas de caráter religioso, cantadas no interior da igreja, e profanas marcadas por versos e acompanhadas por vários instrumentos: pandeiro, ganzás, cuíca, reco-reco e caixas.

PARAFUSO

                  Conta a lenda que os escravos, para fugirem dos engenhos, roubavam anáguas brancas das Sinhás que ficavam estendidas no varal à noite, pintavam o rosto com tabatinga e, fazendo peripécias nas estradas, assombravam as pessoas que os confundiam com fantasmas, o que facilitava a fuga. Como todo grupo que tem influência dos africanos, o Parafuso presta homenagem a São Benedito, também considerado padroeiro dos negros. Segundo o historiador Adalberto Fonseca, quem criou a expressão "Parafusos" foi o Padre Salomão Saraiva que ao ver da igreja os negros com saias exclamou: “parecem parafusos dançando”. Daí deriva a conhecida música do grupo:
“Quem quiser ver o bonito
Saia fora e vem ver
Venha ver o Parafuso
A torcer e a distorcer”
Os integrantes são todos homens. A indumentária é composta por cinco anáguas sobrepostas umas às outras do pescoço à altura do tornozelo. Por baixo usam uma blusa branca com decote redondo, aberta na frente, mangas compridas com elástico nos punhos. Calça também branca, folgada, com elástico no cós e nas pernas, acabamento em bico de renda de ráfia. Tênis branco e meias branca, chapéu com fita vermelha, complementa a indumentária. Essa manifestação teve origem na cidade de Lagarto, durante um período desapareceu, sendo reativada com total força que seu nome está ligado à cidade de origem. Quando falamos em Lagarto, lembramos de Parafuso ou vice-versa.   

REISADO

É um folguedo do ciclo natalino,que corresponde ao período de 24 de dezembro a 06 de janeiro, quando é comemorado o nascimento do menino Jesus e a festa de Reis. A sua origem tem raízes nos “Janeiros” e “Reiseiros”, grupos que saíam às ruas na Idade Média, pedindo que “lhes abrissem as portas e recebessem a boa nova”, o nascimento de Cristo, recebendo dos donos da casa alimento e dinheiro. A religiosidade em torno da Sagrada Família, a formação em alas ou cordões, a melodia simples e repetida, acompanhado por bombo e sanfona, são elementos marcantes da influência ibérica segundo a professora e pesquisadora Aglaé Fontes D’Ávila. Uma das características do Reisado é a farsa do boi, que representa a magia e é responsável pela sobrevivência do grupo, por isso é sacrificado e sua carne é repartida, sendo ressuscitado em seguida, para a alegria de todos. A indumentária é produzida geralmente em tecido douchese, nas cores azul, que representa o manto de Nossa Senhora, e o vermelho em homenagem ao sangue de Jesus Cristo. É um vestido de cintura com bastante roda, para facilitar o movimento coreográfico, o decote redondo, de onde caem fitas em variedade de cores, com mangas “fofas”, na cabeça um chapéu forrado com tecido igual ao do vestido, na cor que representa o respectivo cordão.
Da aba esquerda do chapéu também caem fitas, tendo ainda na produção do mesmo, flores de papel crepom. O vestido da “Dona Deusa”, que junto como Mateus conduz a brincadeira através de improvisações, é composto pelas cores que representam os dois cordões. Ela é uma figura central, não podendo tomar partido da disputa das alas. O Mateus é o elemento engraçado do grupo. Ele veste um macacão estampado, na cabeça usa um chapéu em formato de cone, forrado com o mesmo tecido do macacão, acabamento com fitas e bastante brilho. Geralmente pinta o rosto com tinta na cor branca ou preta. O calçado usado por todos os componentes é o tênis. Em quase todos os municípios do Estado surgiram grupos de Reisado. Contudo, é em Laranjeiras, São Cristóvão e Japaratuba que estão os mais atuantes.

SAMBA DE PAREIA

                É uma variante do Samba de coco, com formação em círculo. A dança é desenvolvida em pares, o ritmo marcado pelo som dos tamancos e acompanhados por atabaques, onças e ganzás. É um grupo formado exclusivamente por mulheres. Diferente do Samba de Coco, a solista não está no centro da roda, mas ao lado dos músicos, ela tira os versos enquanto as demais cantam o refrão. A indumentária é simples, própria do ciclo junino. Vestido de cintura, rodado com um leve decote na blusa, sobrepondo um babado e mangas bufantes, confeccionado em tecido de algodão com estampa discreta.Calçam tamancos e na cabeça usam chapéu de palha. A área de abrangência mais conhecida dessas manifestações é o povoado Mussuca, em Laranjeiras.

SÃO GONÇALO

                Dança-ritualreligiosa destinada ao pagamento de promessas, dos vivos e dos mortos, de origem ou aculturação portuguesa. Inicialmente era apresentada no interior dos templos católicos, sendo proibida posteriormente por seu caráter mundano. São Gonçalo era um padre português que, preocupado em converter as prostitutas, aprendeu a tocar viola passando a “dançar com elas alegremente, mas tendo nos sapatos pregos que feriam os pés” (Câmara Cascudo, 1962). Cansadas, elas perdiam o interesse pelo “trabalho”, ele então aproveitava a oportunidade para pregar os princípios da doutrina cristã. O culto a São Gonçalo foi trazido pelos portugueses no século VIII para a Bahia, espalhando-se diversas regiões do país com características próprias, tornando-se um dos ritos mais fortes do catolicismo rural. Em Sergipe, a dança e o culto se efetivaram no povoado Mussuca, município de Laranjeiras. O grupo é formado por um patrão, que tira os cantos acompanhados pela caixa (instrumento), dois guias e vários integrantes, todos homens, dançando sempre em pares. A única mulher é a “Mariposa” que conduz o santo na procissão. Esta formação é uma característica própria do grupo da Mussuca, ou seja, em outras regiões a presença feminina é em maior número. A influência do negro é muito forte nessa manifestação, tanto na coreografia, como na indumentária, mais colorida. Enquanto em outras regiões predomina o branco, na Mussuca o colorido das fitas e das estampas das saias fazem o grande diferencial. A composição dos trajes é a seguinte: o Patrão apresenta-se em traje de marinheiro (São Gonçalo também foi marinheiro), com calça branca tendo uma fita vermelha, larga nas laterais e camisa também branca , com mangas compridas e punhos largos em azul marinho, a gola também neste tom com âncoras nas laterais, quepe de marinheiro azul e branco. A mariposa, que é a única mulher, não tem vestes especiais. Os demais brincantes vestem calça branca, anteriormente era azul, sobre a calça uma saia estampada, com flores, até a altura dos joelhos e com babados, acabamento em bico de renda e na cintura elástico. Blusa cavada no pescoço, sem manga, também com acabamento em bico de renda. Um xale com fitas coloridas é usado atravessando o tronco da direita para a esquerda, colares, na cabeça um turbante branco completa a indumentária. Os músicos que acompanham o grupo não têm indumentária específica.

LAMBE-SUJO E CABOCLINHOS

            É um auto formado por dois grupos folclóricos com características guerreiras. É definido por alguns estudiosos do folclore como sendo uma adaptação local ou uma reinterpretação de origem branca e inédita de danças brasileiras e européias que demonstram lutas ora entre negros, brancos, mouros e cristãos, ora entre negros e índios. O grupo Lambe-sujo é formado por crianças e adultos, todos pintados de preto e trajando um short vermelho, na cabeça uma gurita na mesma cor. “Mãe Suzana” que representa a mãe dos meninos é a única figura feminina do grupo.
            É sempre realizado no segundo domingo do mês de outubro, em Laranjeiras, a centenária festa dos Lambe-sujos x Caboclinhos.
A cidade fica tomada de sergipanos e turistas de várias partes, que vão conferir de perto as curiosidades do evento.
A beleza das indumentárias e a folia dos maracatus são atrativos unânimes, além da divertida brincadeira de “melar” e das corridas dos chicotes dos taqueiros. A festa tem início às 5h da manhã com alvorada, cortejo dos lambe-sujos e caboclinhos pelas principais ruas da cidade e às 9h o padre realiza a bênção em frente à igreja Matriz.
O espaço fica repleto. Os participantes não poupam o sacerdote e após o ato religioso ele é ‘batizado’ com a tinta usada na brincadeira de melar (mel de cabaú misturado ao pó xadrez).
 
Para garantir a tradicionalidade do evento centenário, a Prefeitura de Laranjeiras não mede esforços e garante aos brincantes a infraestrutura e a logística necessária. “A festa dos Lambe-sujos e Caboclinhos é uma das manifestações mais importantes do calendário municipal. Por esse motivo, a prefeitura disponibiliza aos brincantes e aos turistas toda a infraestrutura necessária.
Logo cedo, os lambe-sujos se espalham pela cidade, desde a entrada até a praça central de Laranjeiras. Assim, demarcam território e mostram que estão prontos para o combate. Em maioria, os lambe-sujos também ocupam a área próxima à igreja, onde recebem a benção do padre, antes de iniciar os embates. À tarde, é vez das figuras reais dos grupos entrarem em cena. Enquanto os lambe – sujo buscam seu Rei, o Pai Juá e sua Mãe Susana, os caboclinhos buscam seus príncipes e princesas. Daí então, entra-se na fase crucial que são as embaixadas na região do quilombo, montado pelos negros. Enquanto o inimigo não vem a festa é grande. O samba está no seu auge. Pode-se ver o negro vigilante nas nuvens a avisar da chegada dos índios. E eles chegam. Uma luta. Duas lutas. Três lutas e vitória dos índios. O castigo para os negros é terem que pedir esmolas ao público para dar ao seu algoz.
No folguedo, os negros (lambe-sujos) lutam contra a tentativa dos índios (caboclinhos) de destruírem os quilombos. Fortalecidos pela oração e crentes em sua fé, os lambe-sujos estão prontos para defender seus quilombos e seus filhos e preparados para derrotar os caboclinhos. Ao final da batalha, os lambe-sujos são derrotados e subjulgados pelos caboclinhos. A derrota não é motivo de tristeza. Na verdade, é o que menos interessa aos lambe-sujos.
Outra cidade em que ocorre a festa  a manifestação dos Lambe-sujeos e Caboclinhos é Itaporanga D’Ajuda.

TAIERIA
            Dança-cortejo de caráter religioso, inserida no ciclo natalino, mais precisamente relacionada com a festa de Reis. O grupo é formado por mulheres, com algumas figuras que são representados por homens e que só se apresentam em ocasiões especiais, por exemplo na coroação do Rei e da Rainha. O aspecto religioso do grupo está relacionado ao catolicismo, na adoração a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Contudo, em Laranjeiras é muito forte a influência da religião afro-brasileira. Em Lagarto e Japaratuba a dança também possui características distintas. Na indumentária, do grupo Taieiras de Laranjeiras, predomina a cor vermelha nas blusas, decote redondo, com acabamento de bico de renda, também nas mangas. Completando, fitas verde e amarela que atravessam o tórax formando um X, com as pontas caindo ao lado. A saia branca até os joelhos, com fitas vermelhas formando linhas retas e quebradas, além de laços em várias cores: azul, vermelho e amarelo, como acabamento. Na cabeça, chapéu pequeno, forrado com papel crepom branco, fita vermelha em volta. Nas mãos as camponesas levam uma cestinha enfeitada com papel de seda cortado em tiras e franzido, formando babados nas cores vermelho e amarelo, além de um bastão enfeitado nas mesmas cores das costas e umquebreché de colares dourados, pulseiras e brincos. O Batrão, que é ojovem que toca o tambor fazendo a marcação, veste calça vermelha de douchese, fita amarela em frisos nos lados, blusa azulclaro e mangas compridas, galãodouradofaz o acabamento, atravessa o tóraxfita larga verde e amarela.
            Em outros municípios a cesta é substituída por peneira de palha, também enfeitada com flores de papel.

SAMBA DE CÔCO

Dança de origem africana em que as palmas das mãos e o sapateado são o ponto forte. O cantor ou tirador de versos, conhecido também como coqueiro, é responsável pela música tirada de improviso e que retrata normalmente amor e paixão, sendo respondida alegremente pelo restante do grupo que, em círculo, dança e pares. O pandeiro é instrumento que marca o ritmo.

O samba de côco é uma manifestação cuja origem, no nordeste brasileiro, está associada à formação de quilombos, local onde se reuniam os negros fugitivos da senzalas. Os negros para diminuir a ociosidade cantavam no ritual que normalmente obedecia a quebra do coco. Os mais importantes grupos de Samba de côco de Sergipe são o do Mestre Euclides em Aracaju e o da cidade de Estância.
 Imagens disponíveis em:

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